Quinta-feira, 02/06/20011 |
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Diálogo Aberto |
Arte e Cultura |
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Velhice, qualidade de vida e felicidade |
Com o aumento da qualidade e da expectativa de vida, e das mudanças de mentalidade com respeito ao modo de viver, a velhice agora pode ser sinônimo de vida ativa, saudável e feliz |
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Por: Maria Terezinha Santellano |
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Aposentada, 74 anos, residente em Porto Alegre (RS), é colunista convidada do Portal Terceira Idade |
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velhice, de acordo com o pensamento de alguns, é uma estância de recolhimento, anulação e privações. Pode ser uma longa espera para o inevitável. Um tempo de sossego, imobilismo e meditação forçada. Felizmente nem todos pensam assim. Desde a antigüidade, sábios, serenos, e espirituosos pensam até ao contrário. Se observarmos a vida dos idosos atualmente, podemos facilmente concluir que os sábios de ontem estão mais próximos da realidade dos fatos de hoje.
Com o aumento da qualidade e da expectativa de vida das populações, e das mudanças de mentalidade com respeito ao modo de viver, a velhice agora pode ser sinônimo de vida ativa, saudável e feliz, em toda a sua plenitude. Ser velho pode então ser interpretado como alguém que, depois de uma parcela do tempo de vida empregado ao trabalho e à dedicação à família, desfruta de uma etapa de lazer, interação social, aprendizagem despreocupada, busca de conhecimento interior e felicidade desprendida.
É claro e evidente que todos esses benefícios só poderão ser conquistados se a velhice for acompanhada necessariamente de boa saúde e lucidez. O segredo de uma velhice saudável, todos nós sabemos, é baseado em uma regra simples, de três recomendações: alimentação equilibrada, prática de atividades físicas compatíveis e períodos de repouso restauradores.
Prolongar esse período importante da vida possui uma receita mais simples ainda: atividade e felicidade. E, para manter a lucidez, devemos ocupar a mente com atividades nobres.
Cícero, o grande orador e literato romano, no seu conhecido tratado ‘Saber envelhecer’, resume em quatro as razões possíveis para as pessoas pensarem a velhice como uma fase da vida detestável: 1) ela nos afastaria da vida ativa; 2) ela enfraqueceria o nosso corpo; 3) ela nos privaria dos melhores prazeres; e 4) ela nos aproximaria da morte.
A vida moderna e o apoio institucional e social ao idoso transformaram a velhice em um período possível de vida ativa, onde podemos manter o nosso corpo fortalecido e saudável, e continuar desfrutando os melhores prazeres da vida. Esses benefícios juntos nos permitem manter afastada a trágica idéia da morte próxima. Atingimos assim a antítese das condições detestáveis tão bem enumeradas por Cícero.
De fato, a proximidade da morte ou a consciência da sua inevitabilidade não parecem ser um problema maior da velhice. Esse é um dos grandes paradoxos da existência: vivemos cada dia sem a lembrança constante de que a única certeza da vida é a morte. Como apropriadamente nos afirmou Sêneca, outro dos grandes autores romanos e quase um contemporâneo de Cícero, no tratado ‘Sobre a brevidade da vida’: “ninguém tem a morte diante dos olhos, todos projetem longe as esperanças”.
Na verdade, Cícero em seu primoroso texto trata mesmo é de refletir e afastar aquelas razões do repúdio à velhice, com argumentos bem elaborados e exemplos de longas e fecundas vidas, que contrastam ou mesmo refutam as razões apresentadas, defendendo que é possível, sim, encontrar prazer na velhice, assim como em todas as etapas da vida. Prazer esse que hoje podemos sentir facilmente, sem a necessidade de um exercício intelectual profundo e refinado como o de Cícero, que na sua época era um privilégio de uns poucos sábios e abonados. |
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